quarta-feira, 5 de maio de 2010

Teoria do não-objeto

O texto, escrito em tom de manifesto, é a continuação da II exposição neoconcreta. Dividido em três partes: Morte da pintura, Obra e Formulação Primeira.
O que o não-objeto NÃO é: objeto negativo, oposto do objeto, antiobjeto (vejo aqui uma crítica clara à arte conceitual). Ele É: objeto especial, síntese de experiências sensoriais e mentais, corpo transparente ao conhecimento fenomenológico, não deixa resto, pura aparência.

O não-objeto dura só um instante. Algumas obras falam às nossas costas. O não-objeto, não. Ele não nos segue. Merleau-Ponty aponta que, no sentido hegeliano, a fenomenologia é a lógica do conteúdo, da ordenação espontânea. Como congregação de vários vértices de experiêncua, em uma verdade instríseca. Trata-se do conhecimento tácito, ou seja, de todo conhecimento que a obra adquire em seu tempo de vida. Ela se coloca, fala por si, transforma o espaço, fundando um lugar. O lugar é o espaço assenhorado.

Creio que nesse texto, ao colocar os problemas do não-objeto, e de sua vital necessidade de ser, o que Gullar pretende fazer é desatar o nó metafísico que envolve o próprio conceito de coisa. A coisa em si de Kant, que não considera que o pensamento conheça as coisas, pois o que eu conheço, conheço em mim. Ou seja, a luta contra o objeto me parece a luta entre o fenômeno (a coisa em mim) e o noumeno (a coisa em si, incogniscível).

O não-objeto é a formulação primeira do mundo, é a resposta dada pela obra no instante mesmo de nosso contato com ela, é o que ela é, e ao mesmo tempo o que eu a torno. o não-objeto é o que se dá no intervalo entre essas duas verdades.

Roberta Calábria

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